09 janeiro 2013

O dia da partida


Todas as manhas, ao acordar, olhava pela janela do meu quarto e imaginava o mundo lá fora. Parecia mais distante do que realmente era. Algumas pessoas estressadas passando pela rua, uma senhora caminhando  devagarinho, um homem com um jornal em uma de suas mãos. Uma criança com uma bola de futebol e um gatinho perdido. Eram apenas o que meus olhos viam. O sol forte e alguns pássaros também. Olhei para um quadro, que eu mesma tinha feito na noite anterior. Um lugar que poderia chamar de paraíso. Tinha apenas quinze anos, algumas historias para contar, pingos de tinta sobre a pele e sonhos que não cabiam mais dentro de mim. A vontade de vê-los realizarem ia muito mais além do que podia ver por aquela pequena janela.

Minha mãe gritou meu nome e anunciou que o café estava pronto. Desci as escadas sem nenhuma vontade de comer. Todos calados. Mas o olhar dizia tanto. Meus pais comentaram algo sobre o jornal, meu irmão brincava com seu brinquedinho novo e eu queria não pensar em nada. Andar até a escola parece bom, quando seus pensamentos não estão te sufocando. A briza bate em seu rosto e você suplica por calma. Por calma na alma. 

Meus sonhos e planos, começam a me levar a loucura. Queria sair pela porta de casa, dizer aos meus pais que não sabia o dia que voltaria e realizar, pelo menos, metade das coisas que já realizei em alguns sonhos. Em uma noite qualquer. Até já deixei uma mochila arrumada, com um pouco de dinheiro, um mapa, meu caderno de desenho, uma blusa de frio, um diário e uma maquinha fotográfica. Quem dera fosse o suficiente. O suficiente para sair por ai, sem um rumo exato. Quem sabe, eu não a use, em qualquer dia que estiver realmente cansada de tudo isso. Da vida. 

Isso não importa muito, para os outros. Os que me julgaram e comentaram sobre a minha partida. Eu apenas sinto que não estou onde deveria estar. E por mais palavras que gaste tentando fazer alguém entender, é inútil. Eu amo meus pais, mas eles também não entendem. Só temos uma vida e, fazer dela a melhor é uma obrigação. Gosto de ter historias para contar. Gosto de ter motivos para viver. E gosto mais ainda de conhecer novos lugares, novos sentimentos, novos sorrisos. Tenho um skate, a minha mochila que já esta pronta e coragem para enfrentar o que vier. O dia da partida? Bom, eu estou a sua espera. 

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